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sexta-feira, 5 de abril de 2013

Paraíso tortuoso

E mais uma vez volto de lá cabisbaixo.
Solitário e desolado ao saber que jamais poderei tê-la.
Mas como?
Como poderei sorrir, cantar ou respirar 
com essa atmosfera que me sufoca?
Como não pensar a cada instante naqueles olhos 
que mais parecem janelas abertas direto ao paraíso.
Um paraíso tortuoso que me faz pecar.
Não tem volta, 
me trancaram em um labirinto espinhoso e agora estou condenado.
Ficarei para sempre sufocado e trancado aqui,
do lado de fora do paraíso,
vendo a razão dos meus pecados 
pecando por outro.

Tamires Sousa

Barão vermelho - Flores do Mal



FLORES DO MAL

Não me atire no mar de solidão 

Você tem a faca, o queijo e meu coração nas mãos 
Não me retalhe em escândalos 
Nem tão pouco cobre o perdão 
Deixe que eu cure a ferida dessa louca paixão 
Que acabou feito um sonho 
Foi o meu inferno, foi o meu descanso 
A mesma mão que acaricia, fere e sai furtiva 
Faz do amor uma história triste 
O bem que você me fez nunca foi real 
Da semente mais rica, nasceram flores do mal 
Huummm.... 
Não me atire no mar de solidão 
Você tem a faca, o queijo e meu coração nas mãos 
Não me retalhe em escândalos 
Nem tão pouco cobre o perdão 
Deixe que eu cure a ferida dessa louca paixão 
Não me esqueça por tão pouco 
Nem diga adeus por engano 
Mas é sempre assim 
A mesma mão que acaricia, fere e sai furtiva 
Faz do amor uma história triste 
O bem que você me fez nunca foi real 
Da semente mais rica, nasceram flores do mal. 

Ai Jesus!



Ai Jesus! não vês que gemo,
Que desmaio de paixão
Pelos teus olhos azuis?
Que empalideço, que tremo,
Que me expira o coração?
Ai Jesus!

Que por um olhar, donzela,

Eu poderia morrer
Dos teus olhos pela luz?
Que morte! que morte bela!
Antes seria viver!
Ai Jesus!

Que por um beijo perdido
Eu de gozo morreria
Em teus níveos seios nus?
Que no oceano dum gemido
Minh'alma se afogaria?
Ai Jesus!

Sobre o autor

Dentre suas obras merece um destaque especial a "Lira dos Vinte Anos", composta de diversos poemas. A Lira é dividida em três partes, sendo a 1ª e a 3ª da Face Ariel e a 2ª da Face Caliban. A Face Ariel mostra um Álvares de Azevedo ingênuo, casto e inocente. Já a Face Caliban apresenta poemas irônicos e sarcásticos.

Adeus, meus sonhos!


Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!
Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!
Misérrimo! Votei meus pobres dias
À sina doida de um amor sem fruto,
E minh’alma na treva agora dorme
Como um olhar que a morte envolve em luto.
Que me resta, meu Deus?
Morra comigo
A estrela de meus cândidos amores,
Já não vejo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores!

Álvares de Azevedo

Meu Sonho




Eu
Cavaleiro das armas escuras,
Onde vais pelas trevas impuras
Com a espada sangüenta na mão?
Por que brilham teus olhos ardentes
E gemidos nos lábios frementes
Vertem fogo do teu coração?
Cavaleiro, quem és? o remorso?
Do corcel te debruças no dorso.
E galopas do vale através.
Oh! da estrada acordando as poeiras
Não escutas gritar as caveiras
E morder-te o fantasma nos pés?
Onde vais pelas trevas impuras,
Cavaleiro das armas escuras,
Macilento qual morto na tumba?.
Tu escutas. Na longa montanha
Um tropel teu galope acompanha?
E um clamor de vingança retumba?
Cavaleiro, quem és? – que mistério,
Quem te força da morte no império
Pela noite assombrada a vagar?
O Fantasma
Sou o sonho da tua esperança,
Tua febre que nunca descansa,
O delírio que te há de matar!.

Álvares de Azevedo

Lembranças de morrer





Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nenhuma lágrima
Em pálpebra demente.



E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.


Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro,
... Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;


Como o desterro de minh’alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade... é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.


Só levo uma saudade... é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
De ti, ó minha mãe, pobre coitada,
Que por minha tristeza te definhas!


De meu pai... de meus únicos amigos,
Pouco - bem poucos... e que não zombavam
Quando, em noites de febre endoudecido,
Minhas pálidas crenças duvidavam.


Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei... que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!


Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores...
Se viveu, foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.


Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo...
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!


Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
Foi poeta - sonhou - e amou na vida.


Sombras do vale, noites da montanha
Que minha alma cantou e amava tanto,
Protegei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramai-lhe canto!


Mas quando preludia ave d’aurora
E quando à meia-noite o céu repousa,
Arvoredos do bosque, abri os ramos...
Deixai a lua pratear-me a lousa!

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Dama angelical



Tão linda estava de branco
Tão linda como uma rosa não poderia ser
Tão perfeita, doce, tranquila e singela que me senti voar
Nunca havia visto dama tão bela que fez meu coração disparar
Nunca desejei tanto alguém
Nunca pensei que amaria um anjo
Por um segundo pensei que seria feliz, por sonhar com o seu sorriso
seu beijo, seu carinho, seu silêncio confortante, seu abraço desejante
Tão pura ao ponto de encantar
Que me fez com a morte dançar em sua harmonia imperfeita

Mário Ítalo.


Namoro a cavalo - Álvares de Azevedo



Eu moro em Catumbi: mas a desgraça,
Que rege minha vida maldada,
Pôs lá no fim da rua do Catete
A minha Dulcinéia namorada.

Alugo (três mil réis) por uma tarde
Um cavalo de trote (que esparrela!)
Só para erguer meus olhos suspirando
A minha namorada na janela...

Todo o meu ordenado vai-se em flores
E em lindas folhas de papel bordado...
Onde eu escrevo trêmulo, amoroso,
Algum verso bonito... mas furtado.

Morro pela menina, junto dela
Nem ouso suspirar de acanhamento...
Se ela quisesse eu acabava a história 
Como toda a comédia — em casamento...

Ontem tinha chovido... Que desgraça!
Eu ia a trote inglês ardendo em chama,
Mas lá vai senão quando... uma carroça
Minhas roupas tafuis encheu de lama...

Eu não desanimei. Se Dom Quixote
No Rocinante erguendo a larga espada
Nunca voltou de medo, eu, mais valente,
Fui mesmo sujo ver a namorada...

Mas eis que no passar pelo sobrado,
Onde habita nas lojas minha bela,
Por ver-me tão lodoso ela irritada
Bateu-me sobre as ventas a janela...

O cavalo ignorante de namoro,
Entre dentes tomou a bofetada,
Arrepia-se, pula e dá-me um tombo 
Com pernas para o ar, sobre a calçada...

Dei ao diabo os namoros. Escovado
Meu chapéu que sofrera no pagode...
Dei de pernas corrido e cabisbaixo
E berrando de raiva como um bode.

Circunstância agravante. A calça inglesa
Rasgou-se no cair de meio a meio,
O sangue pelas ventas me corria
Em paga do amoroso devaneio!...

  • Nota: Além de um sentimento melancólico e do desencanto pela vida, Álvares de Azevedo também incorpora o sarcasmo, a ironia e a autodestruição de Musset. 



Se eu morresse amanhã - Álvares de azevedo



















Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!

Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que doce n'alva

Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora

A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!




  • Nota: Por influência do conhecimento da doença (tuberculose) que possuía, Álvares de Azevedo desenvolveu uma verdadeira obsessão pela temática da morte, evidente nas cartas à família e aos amigos. 

"Não penso muito em você"

Não penso muito em você!
Só quando como, escrevo,
descrevo, leio, vejo, sinto,
minto, sorrio e choro
e depois volto a sorrir!
Quando sinto meu coração
bater no estômago.

Só penso em você quando respiro.
Quando me falta o ar,
estou pensando em nós.
Enquanto durmo,
é com você que estou sonhando.
Não penso muito em você,
só quando estou pensando!

Tamires Sousa

Sobre o Autor

Com apenas 13 anos, Alvares de Azevedo dominava francês, inglês e latim. Aos 17, traduziu Shakespeare e Byron. E apesar de sua morte prematura aos 21 anos, deixou uma obra de mais de 800 páginas!

Por que mentias? - Álvares de Azevedo




Por que mentias? - Álvares de Azevedo
Por que mentias leviana e bela?
Se minha face pálida sentias
Queimada pela febre, e minha vida
Tu vias desmaiar, por que mentias?
Acordei da ilusão, a sós morrendo
Sinto na mocidade as agonias.
Por tua causa desespero e morro…
Leviana sem dó, por que mentias?
Sabe Deus se te amei! Sabem as noites
Essa dor que alentei, que tu nutrias!
Sabe esse pobre coração que treme
Que a esperança perdeu por que mentias!
Vê minha palidez – a febre lenta
Esse fogo das pálpebras sombrias…
Pousa a mão no meu peito!
Eu morro! Eu morro!
Leviana sem dó, por que mentias?